domingo, 27 de janeiro de 2013

A transformação

Foi num belo dia 12 de novembro de 2012 que recebi um e-mail. Era um chamamento para um evento classista que aconteceria no dia 14, e haveria algumas pautas interessantes a serem discutidas sobre a categoria do serviço no qual eu trabalho. Foi o momento em que eu disse para mim mesma: é agora ou nunca!

Peguei minha maquininha depilatória (tenho uma, que agora não uso mais, para aparar as partes íntimas, já que detesto pelos) e a usei para raspar minhas pernas. O resultado não ficou lá dos mais satisfatórios, mas era o que tinha. Foi que no grande dia, cometi as primeiras loucuras da minha nova vida.

Entrei numa loja cujo vestido (uma jardineira, na verdade) achei lindo e disse que queria experimentá-lo. Ainda bem que ninguém deu nenhum olhar feio nem nada. Experimentei a jardineira, caiu muito bem, e a levei. Comprei também uma meia-calça pra usar com um sapato (que comprei em outra ocasião da minha vida, que depois contarei) e uma peruca, que é minha fiel companheira. Chegando na esquina de casa, entrei no primeiro salão de beleza da rua e fiz a minha sobrancelha, deixando bem claro que eu ia sair montada na rua (risos).

Tudo pronto, lá vou eu me arrumar. Bota camisetinha, bota jardineira, bota peruca, bota meia-calça, bota sapato (aliás, esse demorou quase meia hora). E fiquei desse jeito.


Foto: Fernanda Kobata

Sem sutiã e sem maquiagem. Um tanto cafona. Um tanto andrógina. Um tanto esquisita.

Primeiro desafio: andar de salto alto na rua. Nunca tinha tentado, portanto foi complicadíssimo me equilibrar, ainda mais tendo que subir uma ladeirinha chata. Segundo desafio: me equilibrar dentro de um ônibus, com o salto mandando seu pé lá pro esconderijo do sapato. Terceiro desafio: encarar as pessoas, já que vários me conheciam.

Alguns me cumprimentaram pelo antigo nome. E lá vou eu me apresentar: oi, eu sou a Marina, nova companheira de vocês. Alguns não me reconheceram à primeira vista, mas depois lembraram da minha fisionomia e ficaram um tanto chocados. Normal. Mas o bom é que tudo correu bem. Acredito estar trabalhando com pessoas que têm (aparentemente) uma mente mais aberta e sabem lidar com essa situação creio que inédita em suas vidas. Mas sobre isso falarei mais adiante.

O que importa é que em 14 de novembro de 2012 algo muito importante se concretizou em minha vida: a partir daquele momento eu seria não mais um personagem de mim mesma, e sim Marina, eu mesma, com seus questionamentos e suas aspirações.

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