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Deparo-me com a recente aprovação pela Assembleia Legislativa de São Paulo à implantação do vagão feminino em trens do Metrô e CPTM, o que suscitou um grande debate sobre a eficiência desta medida. Neste post, vou fundamentar porque acho que a medida é inócua e mais atrapalha que ajuda.
Em primeiro lugar, com tanto furor que tivemos neste ano com o debate sobre a "cultura do estupro" legitimada pela população brasileira, criar um vagão exclusivo para mulheres não as torna mais livres; ele apenas as separa dos homens temporariamente. Saindo do metrô, elas vão ter de se misturar e correr o mesmo risco de abuso que corriam no metrô. Separá-las é uma medida simplista que não resolve o problema.
Segundo: mais uma vez estaríamos culpando a vítima e inocentando o culpado. Se um tarado encoxa a mulher dentro do trem e a constrange, quem está errado, ele ou ela? Ao separar a mulher, fica a impressão de que é ela. E se por um acaso o tal "vagão feminino" estiver lotado, coisa super comum em horários de pico, e a mulher precisar pegar um dos outros vagões? Se ela sofrer um ataque de algum sem-vergonha, quem é o culpado: ele por ser um tarado, ou ela por não ter usado o vagão exclusivo?
Terceiro: também legitimamos a ideia de que o homem não tem nenhum tipo de controle sobre seus instintos e isso o isenta de qualquer culpa por atacar uma mulher. Ou seja, é melhor deixar a libertina mulher separada e fora do alcance do pobre homem que não consegue se conter diante de uma figura feminina. Patético!
Quarto: restrições de ordem técnica. A maioria dos trens novos comprados pelo metrô já têm todos os vagões sem separação, e aí fica a pergunta: será que a autoridade responsável vai conseguir fiscalizar de forma efetiva o respeito ao tal vagão exclusivo?
Quinto: a questão trans. Se não bastasse todo o machismo que fomenta essa discussão, ainda ficamos num impasse. E se uma trans/travesti/qualquercoisadogênero resolver usar o vagão, qual será o comportamento da empresa? Qual será o comportamento das mulheres? As trans serão proibidas de usar o vagão pura e simplesmente por terem um genital diferente? Terão suas identidades desrespeitadas por um julgamento falocrático que vem até das próprias mulheres?
Até entendo aquelas pessoas que são a favor da implantação do vagão feminino. Afinal, é tanto abuso durante o dia que uma viagem de metrô pode ser um pouco mais segura com essa medida. Porém, o que vejo são tantas perguntas de difícil resposta que implantar o vagão feminino vai trazer mais discussão e mais transtornos do que o benefício que se propagandeia. E não é garantia nenhuma de que o verdadeiro problema, a objetificação da mulher pelo homem, seja resolvido. É tratar do sintoma e não da causa.
Um comentário:
É tanta coisa faltando para corrigir a sociedade machista em que vivemos, que nem sei direito o que pensar sobre o vagão feminino. Eu concordo com tudo o que tu apontou, mas fico me perguntando que tipo de soluções são, afinal de contas, possíveis. :/
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