terça-feira, 14 de maio de 2013

Ensaios sobre a transfobia e o creme de cebola

Primeiro, quero dizer que passei um bom tempo sem atualizar o blog por pura falta de assunto. A semana foi muito parada então não tinha o que colocar aqui. Hoje vou fazer dois posts, um médio, mais sério, e um longo, mais fútil. O longo postarei mais tarde, o médio é este. Segundo, o título do texto se dá porque a este momento, quase meia-noite, estou comendo Doritos com creme de cebola (me julguem), mas não tem nada a ver com a "iguaria".

Atualização tardia de 13/06/2013: disse que ia fazer dois posts, mas só postei um. Quando ia começar o segundo capotei de sono e no outro dia esqueci o que ia escrever.

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Ler é algo que me fascina bastante. Leio de tudo, desde gibi da Mônica até bula de remédio. Como ando muito preguiçosa nos últimos tempos para ler um livro, aliás tenho vários que nem tirei do plástico, passo o tempo a ler coisas na internet, umas interessantes, outras bizarras, outras indignantes, e outras que me deixam com aquela cara blasé. (Momento para um parêntese: deveria passar menos tempo na internet e ler mais livros, admito, mas a internet está se mostrando mais fascinante)

Nesse momento de transição que estou vivendo, acabo por ler muita coisa relacionada ao meio transgênero, e a consequente transfobia. Algo que não tem nada a ver com a homofobia, a aversão aos homossexuais, por um motivo muito simples e que passa despercebido por grande parte do meio gay: um transgênero, seja de qual vertente for, não necessariamente é homossexual. A aversão ao homossexual se dá pela sua orientação sexual diferente da convencionada. A transfobia se dá, na sua quase totalidade, pela simples existência do transgênero.

Desde os repugnantes programas policialescos, sobre os quais prefiro nem comentar, até as políticas públicas incompletas, passando pela intolerância religiosa e falocrática, a transfobia se enraíza e se institucionaliza. Como caso concreto, posso citar a recente decisão da Câmara Municipal de Vitória (ES) de proibir o uso do nome de travestis e transexuais nas escolas da cidade. Ou seja: para o sistema educacional da capital capixaba, uma parcela da população, ainda que pequena (o que na visão mesquinha da política significa poucos votos), não merece ser tratada com dignidade e consequentemente não merece ter pleno direito ao ensino.

Atitudes como esta despertam a ira de certos, como digo, setores, da comunidade trans, os ditos mais esclarecidos, de uma forma iradamente irada (sim, é pra ser redundante mesmo). Já disse anteriormente que estou muito longe de ser uma ativista trans, e minhas experiências incipientes em militância só me fizeram ver que eu não tenho vocação para tanto. Pressinto velhas me tacando pedras a partir de agora.

Vocação para a militância trans é fazer da transexualidade o único e exclusivo tema de suas conversas. Vocação para a militância trans é venerar as terminologias confusas sobre cis, trans, assexual, coisa-sexual, gender-coisa e aquela sopa de letrinhas impronunciável. Vocação para a militância trans é vociferar seu ódio pelos semeadores da transfobia da mesma forma que estes semeiam sua discórdia, de forma amargurada e estúpida. Vocação para a militância trans é esquecer que antes de ser trans se é um ser humano, com vida própria e anseios que não apenas o de ser reconhecid@ como uma pessoa.

Obviamente não estou generalizando a atuação de todas as trans, mas o que eu observo é um certo desespero em se destacar à força da sociedade (imperfeita, mas é a que nós temos). Serviria mais usar essa força existente a disparar gritos contra os transfóbicos para mostrar à sociedade que não somos só "o traveco" da esquina, "a cafetina" do centrão, "a esquisita", "a anormal", "a demente".

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P.S.: O Doritos acabou. Ainda resta um pouco do creme e o gosto de cebola na boca.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Um pouco de humor: a Barbie transgênera

A galera do humorístico Diário Pernambucano está sempre na vanguarda da diversidade sexual e de gênero. Abaixo matéria sobre a novidade do mercado.

Mattel lançará Barbie versão transgênero

San Diego, EUA – ExpoToy, maior feira de brinquedos infantis do mundo. Milhares de pessoas disputam a chance de ver os últimos lançamentos da série de bonecas Barbie. Durante os seus cinquenta anos de existência, a figura esbelta e loira da boneca mais famosa do mundo teve variações étnicas como, a afro-americana, Christie, a latina, Theresa e, a asiática, Kira. Agora, chegam às lojas de todo mundo Shirley e Rebeca, as Barbies transgênero e as primeiras a terem genitálias definidas, no caso, pênis.

Segundo a Mattel, as bonecas seguem a tradição das Barbies de refletirem a diversidade e educarem as gerações para a tolerância, sem estabelecer ideais estéticos, raciais ou de gênero. Porém, as elas já estão causando manifestações polêmicas em todo mundo. Sites neonazistas ameaçam incendiar lojas que venderem os produtos, enquanto organizações religiosas divulgam campanhas de boicote à Mattel e recomendam que os “membros” dos brinquedos sejam cortados pelos pais na frente dos filhos. No Brasil, a deputada estadual do Rio de Janeiro, Myriam Rios (PDT), já pede a proibição antecipada do produto no estado. “E se eu comprar uma boneca dessas pro meu filho e ela tentar bolinar ele? Eu vou ter que manter a boneca em casa e não vou poder fazer nada?”, questionou.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vídeo: Transexualidade no mundo islâmico

Hoje vou deixar "El Cumpleaños", um documentário exibido na TV espanhola que acompanha o dia-a-dia de três transexuais do Irã, um país que surpreendentemente autoriza a realização de cirurgias de transgenitalização e troca do registro. Apesar da falha brutal da produção de dublar as trans MtF com voz masculina e o FtM com voz feminina, o documentário em si foi muito bem montado. Já é meio antigo (foi produzido em 2006), e foi postado no Youtube em 6 partes. Pra quem não entende muito bem espanhol, vou fazer um pequeno resumo.

Atualização de 03/05/2013: o documentário na verdade foi produzido para um canal da Holanda, e não da Espanha, como falei anteriormente; a TVE apenas exibiu o documentário, perdoem o equívoco. Por puro sono, ontem pus apenas links pros vídeos no Youtube, hoje já passei para iframes. Nos comentários de um dos vídeos, se diz que Saye se suicidou, porém não consegui averiguar a veracidade dessa informação.

Parte 1: apresentação de Saye, Mahtab (ambas MtF) e Afshin (FtM). Saye foi expulsa de casa ao assumir a transexualidade e à época do doc vivia com Afshin, e Mahtab vivia com a família bastante tradicionalista; o pai inclusive disse que daria todos os bens para que ela fosse um "homem de verdade".


Parte 2: comemoração do aniversário de Mahtab, que convida seu namorado Mohsen, a contragosto da família. Os dois têm uma conversa sobre a situação dela, que pergunta se ele vai continuar com ela mesmo que a cirurgia que será feita não der certo.


Parte 3: Saye e Afshin acompanham Mahtab em sua última consulta médica antes de realizar a cirurgia de transgenitalização. Um especialista na "sharia", a lei islâmica, explica o porquê de a transexualidade não ser reprimida como a homossexualidade segundo os ensinamentos do Alcorão. Outra transexual fala sobre os estudos que realizou sobre o tema ainda antes de 1979, quando eclodiu a revolução no Irã. Saye mostra as cartas que recebeu de retorno quando pediu orientação para fazer a sua transição.


Parte 4: Mahtab tem uma nova discussão com seus pais, que insistem para que ela desista da ideia de ser mulher. Ela vai para o quarto e mostra sua caixa de lembranças. Saye e Afshin comentam sobre sua vida como casal.


Parte 5: Mahtab se despede de Mohsen e da família para enfrentar a cirurgia de transgenitalização. Vê-se uma certa má vontade do médico em realizar o procedimento, já que ele comenta estar recebendo muito pouco para fazê-lo. Enquanto isso, o irmão de Afshin diz que acha mais fácil aceitar um homem transexual, pois gera menos preocupações no campo familiar.


Parte 6: fim da cirurgia de Mahtab, que vai para a recuperação, mas sai da clínica cirúrgica ainda com dores e dificuldade de locomoção. O médico explica que o Irã virou uma "referência" no assunto transexualidade, pois o processo de retificação de registro civil lá é menos burocrático que no Reino Unido ou na França.