Pesquisa realizada pelo IPEA revelou dados revoltantes sobre o apoio da população brasileira à "cultura do estupro", típica de uma sociedade que insiste em tirar os nossos direitos personalíssimos ao próprio corpo.
58,5% dos entrevistados concordam ao menos parcialmente que "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".
Mais revoltante: 65,1% concordam ao menos parcialmente que "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".
Em outras palavras, a população brasileira legitima o discurso falocêntrico de que a mulher tem culpa por ser estuprada. O homem simplesmente não tem controle sobre os próprios instintos. Está instaurada a cultura do estupro e da violência de gênero.
Não vamos deixar que esse absurdo se perpetue. Pelo bem de todas as mulheres. Todas!
Atualização: o IPEA soltou uma "nota de correção" e disse que os 65% não se referiam à mulher que merece ser estuprada. O número correto seria 26%. Os 65% se referem aos que concordam ao menos parcialmente que "Mulher que apanha e continua com o marido gosta de apanhar". Ou seja, trocaram seis por meia dúzia.
sábado, 29 de março de 2014
quinta-feira, 27 de março de 2014
A alegria...
... de poder mostrar o seu valor, e às pessoas que quiseram seu mal mostrar que você é realmente uma pessoa digna mesmo que tentem lhe desqualificar, é o riso que se dá por último.
quarta-feira, 26 de março de 2014
A bondade dos homens
Não acredito na bondade dos homens. Acredito que haja momentos de inclinação para se fazer coisas que nos pareçam ser feitas para o bem, e coisas que nos pareçam ser feitas para o mal. Mas a maldade integral e a bondade integral são entidades fictícias. Todo mundo tem um lado bom e um lado mau, e em determinados momentos, um ou outro lado se fortalece. Encontrar um balanço entre essas duas forças antípodas é uma habilidade que nos engrandece e melhora nosso autoconhecimento.
terça-feira, 4 de março de 2014
O mute
Antes de qualquer comentário, leia.
Algo que sempre percebo no mundinho é que geralmente falar da opressão é interpretado como enfrentar a opressão. Quem não fala está "vivendo num mundo de faz-de-conta", está "mentindo para si sobre quem se realmente é", está "se negando como as outras pessoas lhe negam", está "jogando o jogo do opressor" etc. Ou seja: "ligar o mute" é, desculpem a piada, "trair o movimento".
A única coisa que tenho a declarar. EU LIGO SIM O MUTE!!!!
Por quê?
Simples: em outros relatos, disse que minha vida, por tudo o que construí e conquistei, não se resume somente a discutir a existência do ser e a queixar-me de que o mundo conspira contra mim.
Poderia estar fadada a um destino sem esperança. Eu o reverti. Pode não ter sido da forma considerada pelo mundinho como a "louvável", mas o reverti, à minha maneira.
E isso não me torna melhor ou pior que ninguém. Muito pelo contrário. Me humaniza, me normaliza, me empodera. Num mundo em que há tantas reclamações de desumanização, descaracterização, despoderamento, desrespeito, desqualquercoisa, conseguir achar na sua luta interna uma possibilidade de seguir em frente numa aparente "normalidade" pode ser até mal visto.
Eu lhes digo: não há demérito em ser "normal". O diferente pode ser "normal". Vejam todas as revoluções de costumes que tivemos no século passado. E as que temos agora. Quem diria há 70 anos atrás que uma mulher poderia usar calças perfeitamente sem ser chamada de "sapatão", de "subversiva"? E quem diria há 20 anos que um homem ousaria ir de saia ao trabalho ou na faculdade (desde que não fosse numa festa escocesa) correndo o risco de ser chamado de "viado" (ou até de sofrer agressão) por uma questão simplesmente prática?
Agora, há quem diga que não, que você que tem que denunciar, que não se deixar oprimir é gritar e espernear, porque é sua obrigação como pessoa T. Obrigação dada por quem, criatura?
Não falar a cada 5 frases que sou oprimida não é o mesmo que submeter-se à opressão. Não passar o dia inteiro falando de transfobia e de que sofro transfobia não é o mesmo que aceitá-la ou negar minha própria existência como ser que dela sofre. Não usar termos pomposos a cada 5 palavras que falo não quer dizer que eu não os conheça ou que eu os ignore.
Ligo o mute por economia de neurônios que já são por demais ocupados. Não uso palavras que parecem saídas de um dicionário de uma língua distante porque não os vejo cabíveis na linguagem que uso para me comunicar. Não grito porque gritei demais antigamente e minha voz me irrita. Não falo de sofrimento porque eu posso não ter sofrido como tantas sofrem, e só eu consigo entender o meu sofrimento.
Ligo o mute não para fechar meus olhos.
E sim porque eles estão bem abertos.
E olhos veem melhor que a boca.
Vídeo da noite: Cristina Donà - Le solite cose
Sufoca a madrugada uma imagem sobre o vidro
Que ainda não sei onde colocar
Bate forte contra a janela e me obriga a pensar!
No meu vestido apenas gelo e sob os pés nenhuma terra
Não posso ficar, mas quero ficar parada olhando, olhando...
Há confusão pelas coisas de sempre...
Algo que sempre percebo no mundinho é que geralmente falar da opressão é interpretado como enfrentar a opressão. Quem não fala está "vivendo num mundo de faz-de-conta", está "mentindo para si sobre quem se realmente é", está "se negando como as outras pessoas lhe negam", está "jogando o jogo do opressor" etc. Ou seja: "ligar o mute" é, desculpem a piada, "trair o movimento".
A única coisa que tenho a declarar. EU LIGO SIM O MUTE!!!!
Por quê?
Simples: em outros relatos, disse que minha vida, por tudo o que construí e conquistei, não se resume somente a discutir a existência do ser e a queixar-me de que o mundo conspira contra mim.
Poderia estar fadada a um destino sem esperança. Eu o reverti. Pode não ter sido da forma considerada pelo mundinho como a "louvável", mas o reverti, à minha maneira.
E isso não me torna melhor ou pior que ninguém. Muito pelo contrário. Me humaniza, me normaliza, me empodera. Num mundo em que há tantas reclamações de desumanização, descaracterização, despoderamento, desrespeito, desqualquercoisa, conseguir achar na sua luta interna uma possibilidade de seguir em frente numa aparente "normalidade" pode ser até mal visto.
Eu lhes digo: não há demérito em ser "normal". O diferente pode ser "normal". Vejam todas as revoluções de costumes que tivemos no século passado. E as que temos agora. Quem diria há 70 anos atrás que uma mulher poderia usar calças perfeitamente sem ser chamada de "sapatão", de "subversiva"? E quem diria há 20 anos que um homem ousaria ir de saia ao trabalho ou na faculdade (desde que não fosse numa festa escocesa) correndo o risco de ser chamado de "viado" (ou até de sofrer agressão) por uma questão simplesmente prática?
Agora, há quem diga que não, que você que tem que denunciar, que não se deixar oprimir é gritar e espernear, porque é sua obrigação como pessoa T. Obrigação dada por quem, criatura?
Não falar a cada 5 frases que sou oprimida não é o mesmo que submeter-se à opressão. Não passar o dia inteiro falando de transfobia e de que sofro transfobia não é o mesmo que aceitá-la ou negar minha própria existência como ser que dela sofre. Não usar termos pomposos a cada 5 palavras que falo não quer dizer que eu não os conheça ou que eu os ignore.
Ligo o mute por economia de neurônios que já são por demais ocupados. Não uso palavras que parecem saídas de um dicionário de uma língua distante porque não os vejo cabíveis na linguagem que uso para me comunicar. Não grito porque gritei demais antigamente e minha voz me irrita. Não falo de sofrimento porque eu posso não ter sofrido como tantas sofrem, e só eu consigo entender o meu sofrimento.
Ligo o mute não para fechar meus olhos.
E sim porque eles estão bem abertos.
E olhos veem melhor que a boca.
Vídeo da noite: Cristina Donà - Le solite cose
Sufoca a madrugada uma imagem sobre o vidro
Que ainda não sei onde colocar
Bate forte contra a janela e me obriga a pensar!
No meu vestido apenas gelo e sob os pés nenhuma terra
Não posso ficar, mas quero ficar parada olhando, olhando...
Há confusão pelas coisas de sempre...
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