Muita coisa aconteceu nesses últimos 19 meses.
Me encontrei comigo mesma, me permiti um mundo de novas possibilidades, me deixei conhecer pessoas maravilhosas e interessantes, me entreguei mesmo que por um instante ao amor que achava ter sido proibido para mim, e acima de tudo: me mostrei que é possível uma vida completamente intensa e digna mesmo sendo trans.
Há momentos em que precisamos nos decidir. Há momentos em que precisamos ser fortes e lutar. Há momentos em que precisamos superar dores que parecem incuráveis e barreiras que parecem intransponíveis. E há momentos em que precisamos aceitar que o trabalho foi feito.
É o caso deste blog. Percebi que o venho atualizando muito raramente, e que muita informação já coloquei aqui, informação que me ajudou, e que está ajudando outras pessoas na sua caminhada pela aceitação.
Atualmente estou em novos projetos. Voltei a estudar. Audiovisual. Um curso maravilhoso, o sonho de minha vida. E que é um instrumento poderoso de mudança, de criação de novos pensamentos. Inclusive para quem os realiza. E que me consome, de uma forma boa.
Em relação à transição, ela ainda não está completa. Faltam detalhes cirúrgicos que serão resolvidos quando eu tiver dinheiro.
Informo que este blog não será mais atualizado, pois creio que minha terapia pública já me deu o resultado esperado, e insistir nela seria contraproducente. Os textos continuarão aqui para que vocês consultem, e para que eu possa rememorar ao longo de tempo como era minha vida durante essa época de transição.
Para quem quiser saber mais de minha vida, acessem meu twitter @maamundi.
A janela foi aberta. E o quarto antes escuro encheu-se de luz para uma nova vida.
Felicidades a todos!
PS: E se alguém quiser ter uma parte boa destes textos num livro, recomendo o "Orgias Literárias da Tribo", coletânea LGBT com 10 autores, inclusive eu. Mais informações em www.orgiasliterariasdatribo.com e em www.editoraorgastica.com
A janela que não se abre
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
Por que sou contra o vagão feminino?
Antes de comentários, leia.
Deparo-me com a recente aprovação pela Assembleia Legislativa de São Paulo à implantação do vagão feminino em trens do Metrô e CPTM, o que suscitou um grande debate sobre a eficiência desta medida. Neste post, vou fundamentar porque acho que a medida é inócua e mais atrapalha que ajuda.
Em primeiro lugar, com tanto furor que tivemos neste ano com o debate sobre a "cultura do estupro" legitimada pela população brasileira, criar um vagão exclusivo para mulheres não as torna mais livres; ele apenas as separa dos homens temporariamente. Saindo do metrô, elas vão ter de se misturar e correr o mesmo risco de abuso que corriam no metrô. Separá-las é uma medida simplista que não resolve o problema.
Segundo: mais uma vez estaríamos culpando a vítima e inocentando o culpado. Se um tarado encoxa a mulher dentro do trem e a constrange, quem está errado, ele ou ela? Ao separar a mulher, fica a impressão de que é ela. E se por um acaso o tal "vagão feminino" estiver lotado, coisa super comum em horários de pico, e a mulher precisar pegar um dos outros vagões? Se ela sofrer um ataque de algum sem-vergonha, quem é o culpado: ele por ser um tarado, ou ela por não ter usado o vagão exclusivo?
Terceiro: também legitimamos a ideia de que o homem não tem nenhum tipo de controle sobre seus instintos e isso o isenta de qualquer culpa por atacar uma mulher. Ou seja, é melhor deixar a libertina mulher separada e fora do alcance do pobre homem que não consegue se conter diante de uma figura feminina. Patético!
Quarto: restrições de ordem técnica. A maioria dos trens novos comprados pelo metrô já têm todos os vagões sem separação, e aí fica a pergunta: será que a autoridade responsável vai conseguir fiscalizar de forma efetiva o respeito ao tal vagão exclusivo?
Quinto: a questão trans. Se não bastasse todo o machismo que fomenta essa discussão, ainda ficamos num impasse. E se uma trans/travesti/qualquercoisadogênero resolver usar o vagão, qual será o comportamento da empresa? Qual será o comportamento das mulheres? As trans serão proibidas de usar o vagão pura e simplesmente por terem um genital diferente? Terão suas identidades desrespeitadas por um julgamento falocrático que vem até das próprias mulheres?
Até entendo aquelas pessoas que são a favor da implantação do vagão feminino. Afinal, é tanto abuso durante o dia que uma viagem de metrô pode ser um pouco mais segura com essa medida. Porém, o que vejo são tantas perguntas de difícil resposta que implantar o vagão feminino vai trazer mais discussão e mais transtornos do que o benefício que se propagandeia. E não é garantia nenhuma de que o verdadeiro problema, a objetificação da mulher pelo homem, seja resolvido. É tratar do sintoma e não da causa.
Deparo-me com a recente aprovação pela Assembleia Legislativa de São Paulo à implantação do vagão feminino em trens do Metrô e CPTM, o que suscitou um grande debate sobre a eficiência desta medida. Neste post, vou fundamentar porque acho que a medida é inócua e mais atrapalha que ajuda.
Em primeiro lugar, com tanto furor que tivemos neste ano com o debate sobre a "cultura do estupro" legitimada pela população brasileira, criar um vagão exclusivo para mulheres não as torna mais livres; ele apenas as separa dos homens temporariamente. Saindo do metrô, elas vão ter de se misturar e correr o mesmo risco de abuso que corriam no metrô. Separá-las é uma medida simplista que não resolve o problema.
Segundo: mais uma vez estaríamos culpando a vítima e inocentando o culpado. Se um tarado encoxa a mulher dentro do trem e a constrange, quem está errado, ele ou ela? Ao separar a mulher, fica a impressão de que é ela. E se por um acaso o tal "vagão feminino" estiver lotado, coisa super comum em horários de pico, e a mulher precisar pegar um dos outros vagões? Se ela sofrer um ataque de algum sem-vergonha, quem é o culpado: ele por ser um tarado, ou ela por não ter usado o vagão exclusivo?
Terceiro: também legitimamos a ideia de que o homem não tem nenhum tipo de controle sobre seus instintos e isso o isenta de qualquer culpa por atacar uma mulher. Ou seja, é melhor deixar a libertina mulher separada e fora do alcance do pobre homem que não consegue se conter diante de uma figura feminina. Patético!
Quarto: restrições de ordem técnica. A maioria dos trens novos comprados pelo metrô já têm todos os vagões sem separação, e aí fica a pergunta: será que a autoridade responsável vai conseguir fiscalizar de forma efetiva o respeito ao tal vagão exclusivo?
Quinto: a questão trans. Se não bastasse todo o machismo que fomenta essa discussão, ainda ficamos num impasse. E se uma trans/travesti/qualquercoisadogênero resolver usar o vagão, qual será o comportamento da empresa? Qual será o comportamento das mulheres? As trans serão proibidas de usar o vagão pura e simplesmente por terem um genital diferente? Terão suas identidades desrespeitadas por um julgamento falocrático que vem até das próprias mulheres?
Até entendo aquelas pessoas que são a favor da implantação do vagão feminino. Afinal, é tanto abuso durante o dia que uma viagem de metrô pode ser um pouco mais segura com essa medida. Porém, o que vejo são tantas perguntas de difícil resposta que implantar o vagão feminino vai trazer mais discussão e mais transtornos do que o benefício que se propagandeia. E não é garantia nenhuma de que o verdadeiro problema, a objetificação da mulher pelo homem, seja resolvido. É tratar do sintoma e não da causa.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Algumas verdades precisam ser faladas.
Ando vivendo muitas situações ultimamente. A partir do que vivi, faço mais alguns esclarecimentos pra você, rapazinho cis hetero que conhece pouco de mim e porventura me leia.
Primeiro, ser trans nunca foi, não é, e nunca será sinônimo de ser puta. Tire essa ligação torta e estúpida da sua cabecinha já!
Se ser mulher pra você se resume a "ter uma vagina", vá a um sex shop e compre uma boneca inflável, ou se tiver condições, aquelas vaginas de borracha. O custo/benefício é maior e você nem precisa conversar com ela.
Se uma menina disser pra você que você é trans, decida-se logo. Se não se sente pronto pra encará-la, diga educadamente que não curte e dê tchau, sem conversinha nem muita explicação. E se não quer ser amigo, nem peça o número, porque agenda telefônica e whatsapp ocupam um bom espaço no telefone.
Não pergunte de cara coisas sobre "qual seu antigo nome", "você vai operar", "você gosta de usar o pinto" e outras indelicadezas do tipo. Da mesma forma que pega muito mal alguém perguntar de cara se seu pau é grande ou se você tem algum nojo com lamber buceta, começar seu diálogo com uma menina trans por essas perguntas invasivas pega muito mal.
E por hoje chega. Se eu lembrar de mais coisas, atualizo.
PS: mesmo ainda achando a palavra "cis" super estranha, já to me acostumando a usá-la de vez em quando.
Primeiro, ser trans nunca foi, não é, e nunca será sinônimo de ser puta. Tire essa ligação torta e estúpida da sua cabecinha já!
Se ser mulher pra você se resume a "ter uma vagina", vá a um sex shop e compre uma boneca inflável, ou se tiver condições, aquelas vaginas de borracha. O custo/benefício é maior e você nem precisa conversar com ela.
Se uma menina disser pra você que você é trans, decida-se logo. Se não se sente pronto pra encará-la, diga educadamente que não curte e dê tchau, sem conversinha nem muita explicação. E se não quer ser amigo, nem peça o número, porque agenda telefônica e whatsapp ocupam um bom espaço no telefone.
Não pergunte de cara coisas sobre "qual seu antigo nome", "você vai operar", "você gosta de usar o pinto" e outras indelicadezas do tipo. Da mesma forma que pega muito mal alguém perguntar de cara se seu pau é grande ou se você tem algum nojo com lamber buceta, começar seu diálogo com uma menina trans por essas perguntas invasivas pega muito mal.
E por hoje chega. Se eu lembrar de mais coisas, atualizo.
PS: mesmo ainda achando a palavra "cis" super estranha, já to me acostumando a usá-la de vez em quando.
domingo, 1 de junho de 2014
O olhar, a entrega
Uma vez me disseram que eu tinha olhar de quem se entrega totalmente.
Isso faz parte da minha natureza: me entregar, sem olhar a quem.
Posso me machucar ou posso me surpreender com essa atitude.
Às vezes penso que deveria ser mais dissimulada nesse jogo.
Infelizmente não consigo; prefiro me entregar totalmente.
Mesmo com o risco de ter de catar meus cacos depois.
Isso faz parte da minha natureza: me entregar, sem olhar a quem.
Posso me machucar ou posso me surpreender com essa atitude.
Às vezes penso que deveria ser mais dissimulada nesse jogo.
Infelizmente não consigo; prefiro me entregar totalmente.
Mesmo com o risco de ter de catar meus cacos depois.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Vou ver. Espero que veja.
Resposta do Centro Paula Souza sobre o meu questionamento de adequação dos sistemas à deliberação do CEE sobre o uso do nome social.
Prezada Cidadã
Com a homologação da referida Deliberação através do Sr. Secretario da Educação do Estado (Publicada em 14/05/2014 – no Diário Oficial, Poder Executivo, Seção I, Página 20 - http://diariooficial.imprensaoficial.com.br/nav_v4/index.asp?c=4&e=20140514&p=1), estaremos orientando todas as Unidades a seguir os novos procedimentos a fim de que os direitos de todos independente da condição de gênero sejam respeitados.
Atenciosamente
SIC SP
Prezada Cidadã
Com a homologação da referida Deliberação através do Sr. Secretario da Educação do Estado (Publicada em 14/05/2014 – no Diário Oficial, Poder Executivo, Seção I, Página 20 - http://diariooficial.imprensaoficial.com.br/nav_v4/index.asp?c=4&e=20140514&p=1), estaremos orientando todas as Unidades a seguir os novos procedimentos a fim de que os direitos de todos independente da condição de gênero sejam respeitados.
Atenciosamente
SIC SP
Sermos quem somos: CNJ e o direito à identidade
Da lista de enunciados aprovados na I Jornada de Direito da Saúde, promovida pelo CNJ.
ENUNCIADO Nº 42
Quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no registro civil.
ENUNCIADO Nº 43
É possível a retificação do sexo jurídico sem a realização da cirurgia de transgenitalização.
ENUNCIADO Nº 42
Quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no registro civil.
ENUNCIADO Nº 43
É possível a retificação do sexo jurídico sem a realização da cirurgia de transgenitalização.
terça-feira, 20 de maio de 2014
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