segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Enquanto isso, no reino da ignorância...

Pois bem, em minha pequena cruzada iniciada em busca de histórias do funcionalismo público T, resolvi buscar os meus colegas da área de regulação num de nossos grupos no Facebook para uma abordagem, quem sabe alguém conheça alguém, eu não devo ser a única funcionária pública nessa situação. E então fiz o pedido, gentilmente. Eis o que recebo como resposta:


Desculpem o palavreado, mas é "de cair o cu da bunda", não é? Não contente, o energúmeno ainda me posta isso no grupo, numa indireta bem direta:



Fiz rasuras nos prints pois sou educada e não é do interesse de ninguém expôr pessoas ao ridículo.

Agora vamos pensar um pouco: o que pensar quando se vê pessoas que, à primeira vista, por serem detentoras de um cargo público conseguido arduamente por meio de um concurso que vem ficando cada vez mais difícil e seletivo, deveriam ser um pouco mais esclarecidas e tolerantes, agirem como verdadeiros ogros e badalhocas?

Mais à frente contarei o que tive de fazer para conseguir o mínimo de respeito institucional. Mas por ora, dedico a este cidadão, que por uma triste coincidência trabalha no mesmo órgão que eu, esta bela música.

Vídeo da noite: Vanessa da Mata - Baú

Quem sabe se sensibiliza? Quem sabe se transformará?
Vamos seguindo acordando cedo! Você só reclama e não age!
Você fica dormindo à tarde, e tudo vai dando nos nervos!
Não corre atrás das suas coisas! Vive aqui choramingando!
Todos já foram embora! Você só sabe reclamar!

Apoios: conhecendo histórias do funcionalismo

Pessoal, estou buscando história de pessoas transgêner@s que sejam SERVIDORES PÚBLICOS, de qualquer poder ou esfera, para compartilhar histórias e canalizar estratégias para propor políticas públicas para o segmento T no funcionalismo, uma vez que este tipo de discussão é praticamente inexistente, tanto nas políticas já existentes na SDH que ainda focam principalmente o público lésbico e gay e as travestis e transexuais em situação vulnerável, quanto no meio sindical, onde, salvo raríssimas exceções, isso nem entra na mesa de debate.

Ninguém tem voz sozinho, portanto, se juntarmos nossas histórias e backgrounds, podemos começar a reivindicar um respeito que ainda tem que ser conseguido na marra. Caso tenha interesse, contatos podem ser feitos para o meu e-mail de.manassi@hotmail.com ou perfil no Facebook (facebook.com/de.manassi, mandem inbox antes que eu leio).

Obs.: mensagens de cunho transfóbico e ofensivo serão desconsideradas e denunciadas!

sábado, 28 de dezembro de 2013

Mais uma dica de ouro

A pessoa que domina a língua é aquela que entende que nem sempre metralhar um monte de informações em determinado padrão de linguagem é adequado para todas as situações. Entenda o público com o qual se vai falar!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A espera

Espero ansiosamente uma única coisa.
Que um único número ligue.
O telefonema que vai mudar tudo.
Melhor, o telefonema vai fazer a vida seguir seu curso natural.
Um convite à burocracia.
Burocracia nunca antes tão desejada.
Para que outro me autorize.
A aquilo para que já me autorizei.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Por que 2013 foi um ano bom?

Na onda do final de ano, hora de vir, fazer um balanço do que aconteceu, e chegar a conclusão de que 2013 foi muito bom para mim.

Primeiro, porque os anos ímpares geralmente me são melhores. Foi em 2005 que comecei a me aceitar diferente. Em 2007 entrei na universidade, que mesmo não concluída, me trouxe inúmeras experiências e contatos que até hoje perduram. Em 2009 fui admitida no serviço público, e desde lá tento minimamente fazer jus a essa conquista.

E em 2013, consegui fazer muitas coisas. Conseguir superar aquela que considero a pior crise pessoal que tive até hoje e sair do profundo buraco em que estava em 2012. Consegui me respeitar e me fazer respeitada. Mostrei àqueles que queriam meu mal que sou mais forte. Fiz com que meus direitos inatos não fossem tolhidos por mera arbitrariedade.

Ainda não pensei nas minhas metas para 2014. Mas elas serão tão realistas quanto as que planejei para 2013, e farei de tudo para que se concretizem.

Vídeo da noite: Ana Torroja - Un año más

E no relógio antigo como todo ano
Cinco minutos mais para a contagem regressiva
Fazemos um balanço do bom e do mal
Cinco minutos antes da contagem regressiva 


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A pessoa trans e a educação

Até alguns anos atrás, era descabido, quase herético, pensar em travestis estudando. Afinal, na nossa sociedade do "multiculturalismo de faz-de-conta" não há espaço para travesti a não ser na rua, na marginalidade, na cafetinagem. Escola? Nunca! Crescimento profissional e intelectual? Tampouco! Eis que aparece Luma Andrade, recém-doutorada pela Universidade Federal do Ceará e agora professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), e desvirtua todo esse pensamento.

A pergunta que fica: é algo possível? A resposta é sim. É algo fácil? Infelizmente não.

Nem todas conseguem suportar a pressão psicológica terrível que se abate contra quem ousa quebrar paradigmas; pressão da escola, que não sabe como lidar com a situação, pois não foi capacitada (está aí um aviso para salvar os nossos cursos de pedagogia à beira do penhasco), da família (que rejeita o não-ortonormativo porque ou o padre/pastor/rabino/fdpqueseja disse que é coisa do diabo, ou porque tem medo de ficar em desvantagem nos seus complexos jogos de vaidades inter/intrafamiliares, ou porque simplesmente não consegue entender o diferente) e do Estado (que descaracteriza as identidades não-"normais", não as reconhecendo, colocando-as como patológicas ou mesmo criminosas).

As que conseguem sabem o quão dura foi a luta para conseguir algo básico: o direito a ter uma educação básica. Se para uma pessoa que não tem nenhum desses fardos em cima, já é difícil ter uma mínima instrução, haja vista a falência crônica da educação no Brasil, imagine como é a situação de quem ainda tem que ouvir chacotas, sofrer violência, moções de repúdio (o filme Ma vie en rose trata desse assunto esplendorosamente).

Terminado o ensino básico, algo ainda mais desafiador: a universidade! Difícil de entrar (pelo menos as de qualidade), mais difícil ainda de sair. Aí vemos a que ponto chega a hipocrisia da "sociedade multicultural". A universidade precisa reconhecer que existe uma identidade transgênera para daí passar a tratar, ainda que precariamente, a pessoa de uma forma mais humanizada. Aquele que deveria ser um lugar de tolerância continua sendo um palco de aviltações à personalidade. Formar-se então, pode ser um pesadelo. Como é que eu chamo o José pra receber o canudo e me aparece a Joana?

Felizmente a realidade parece (digo parece) estar mudando. O reconhecimento do nome social nas universidades é algo que ameniza um constrangimento. É o ideal? Não, mas é o máximo que a nossa sociedade hipócrita ainda está disposta a entender. Devemos parar? Nunca, pois relaxar é aceitar essa desproporção.

Atualmente estou fazendo um esforço para tentar voltar à universidade, que larguei quando vim para São Paulo. Espero conseguir. E àquelas que conseguiram passar os percalços e obtiveram o nível médio, espero que também consigam entrar numa universidade. E assim teremos mais Lumas contribuindo com a ciência e dando um basta à hipocrisia.


Foto: Divulgação / A Capa