segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Abrindo a janela

Muita coisa aconteceu nesses últimos 19 meses.

Me encontrei comigo mesma, me permiti um mundo de novas possibilidades, me deixei conhecer pessoas maravilhosas e interessantes, me entreguei mesmo que por um instante ao amor que achava ter sido proibido para mim, e acima de tudo: me mostrei que é possível uma vida completamente intensa e digna mesmo sendo trans.

Há momentos em que precisamos nos decidir. Há momentos em que precisamos ser fortes e lutar. Há momentos em que precisamos superar dores que parecem incuráveis e barreiras que parecem intransponíveis. E há momentos em que precisamos aceitar que o trabalho foi feito.

É o caso deste blog. Percebi que o venho atualizando muito raramente, e que muita informação já coloquei aqui, informação que me ajudou, e que está ajudando outras pessoas na sua caminhada pela aceitação.

Atualmente estou em novos projetos. Voltei a estudar. Audiovisual. Um curso maravilhoso, o sonho de minha vida. E que é um instrumento poderoso de mudança, de criação de novos pensamentos. Inclusive para quem os realiza. E que me consome, de uma forma boa.

Em relação à transição, ela ainda não está completa. Faltam detalhes cirúrgicos que serão resolvidos quando eu tiver dinheiro.

Informo que este blog não será mais atualizado, pois creio que minha terapia pública já me deu o resultado esperado, e insistir nela seria contraproducente. Os textos continuarão aqui para que vocês consultem, e para que eu possa rememorar ao longo de tempo como era minha vida durante essa época de transição.

Para quem quiser saber mais de minha vida, acessem meu twitter @maamundi.

A janela foi aberta. E o quarto antes escuro encheu-se de luz para uma nova vida.

Felicidades a todos!

PS: E se alguém quiser ter uma parte boa destes textos num livro, recomendo o "Orgias Literárias da Tribo", coletânea LGBT com 10 autores, inclusive eu. Mais informações em www.orgiasliterariasdatribo.com e em www.editoraorgastica.com

terça-feira, 8 de julho de 2014

Por que sou contra o vagão feminino?

Antes de comentários, leia.

Deparo-me com a recente aprovação pela Assembleia Legislativa de São Paulo à implantação do vagão feminino em trens do Metrô e CPTM, o que suscitou um grande debate sobre a eficiência desta medida. Neste post, vou fundamentar porque acho que a medida é inócua e mais atrapalha que ajuda.

Em primeiro lugar, com tanto furor que tivemos neste ano com o debate sobre a "cultura do estupro" legitimada pela população brasileira, criar um vagão exclusivo para mulheres não as torna mais livres; ele apenas as separa dos homens temporariamente. Saindo do metrô, elas vão ter de se misturar e correr o mesmo risco de abuso que corriam no metrô. Separá-las é uma medida simplista que não resolve o problema.

Segundo: mais uma vez estaríamos culpando a vítima e inocentando o culpado. Se um tarado encoxa a mulher dentro do trem e a constrange, quem está errado, ele ou ela? Ao separar a mulher, fica a impressão de que é ela. E se por um acaso o tal "vagão feminino" estiver lotado, coisa super comum em horários de pico, e a mulher precisar pegar um dos outros vagões? Se ela sofrer um ataque de algum sem-vergonha, quem é o culpado: ele por ser um tarado, ou ela por não ter usado o vagão exclusivo?

Terceiro: também legitimamos a ideia de que o homem não tem nenhum tipo de controle sobre seus instintos e isso o isenta de qualquer culpa por atacar uma mulher. Ou seja, é melhor deixar a libertina mulher separada e fora do alcance do pobre homem que não consegue se conter diante de uma figura feminina. Patético!

Quarto: restrições de ordem técnica. A maioria dos trens novos comprados pelo metrô já têm todos os vagões sem separação, e aí fica a pergunta: será que a autoridade responsável vai conseguir fiscalizar de forma efetiva o respeito ao tal vagão exclusivo?

Quinto: a questão trans. Se não bastasse todo o machismo que fomenta essa discussão, ainda ficamos num impasse. E se uma trans/travesti/qualquercoisadogênero resolver usar o vagão, qual será o comportamento da empresa? Qual será o comportamento das mulheres? As trans serão proibidas de usar o vagão pura e simplesmente por terem um genital diferente? Terão suas identidades desrespeitadas por um julgamento falocrático que vem até das próprias mulheres?

Até entendo aquelas pessoas que são a favor da implantação do vagão feminino. Afinal, é tanto abuso durante o dia que uma viagem de metrô pode ser um pouco mais segura com essa medida. Porém, o que vejo são tantas perguntas de difícil resposta que implantar o vagão feminino vai trazer mais discussão e mais transtornos do que o benefício que se propagandeia. E não é garantia nenhuma de que o verdadeiro problema, a objetificação da mulher pelo homem, seja resolvido. É tratar do sintoma e não da causa.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Algumas verdades precisam ser faladas.

Ando vivendo muitas situações ultimamente. A partir do que vivi, faço mais alguns esclarecimentos pra você, rapazinho cis hetero que conhece pouco de mim e porventura me leia.

Primeiro, ser trans nunca foi, não é, e nunca será sinônimo de ser puta. Tire essa ligação torta e estúpida da sua cabecinha já!
Se ser mulher pra você se resume a "ter uma vagina", vá a um sex shop e compre uma boneca inflável, ou se tiver condições, aquelas vaginas de borracha. O custo/benefício é maior e você nem precisa conversar com ela.
Se uma menina disser pra você que você é trans, decida-se logo. Se não se sente pronto pra encará-la, diga educadamente que não curte e dê tchau, sem conversinha nem muita explicação. E se não quer ser amigo, nem peça o número, porque agenda telefônica e whatsapp ocupam um bom espaço no telefone.
Não pergunte de cara coisas sobre "qual seu antigo nome", "você vai operar", "você gosta de usar o pinto" e outras indelicadezas do tipo. Da mesma forma que pega muito mal alguém perguntar de cara se seu pau é grande ou se você tem algum nojo com lamber buceta, começar seu diálogo com uma menina trans por essas perguntas invasivas pega muito mal.

E por hoje chega. Se eu lembrar de mais coisas, atualizo.

PS: mesmo ainda achando a palavra "cis" super estranha, já to me acostumando a usá-la de vez em quando.

domingo, 1 de junho de 2014

O olhar, a entrega

Uma vez me disseram que eu tinha olhar de quem se entrega totalmente.
Isso faz parte da minha natureza: me entregar, sem olhar a quem.
Posso me machucar ou posso me surpreender com essa atitude.
Às vezes penso que deveria ser mais dissimulada nesse jogo.
Infelizmente não consigo; prefiro me entregar totalmente.
Mesmo com o risco de ter de catar meus cacos depois.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Vou ver. Espero que veja.

Resposta do Centro Paula Souza sobre o meu questionamento de adequação dos sistemas à deliberação do CEE sobre o uso do nome social.

Prezada Cidadã

Com a homologação da referida Deliberação através do Sr. Secretario da Educação do Estado (Publicada em 14/05/2014 – no Diário Oficial, Poder Executivo, Seção I, Página 20 - http://diariooficial.imprensaoficial.com.br/nav_v4/index.asp?c=4&e=20140514&p=1), estaremos orientando todas as Unidades a seguir os novos procedimentos a fim de que os direitos de todos independente da condição de gênero sejam respeitados.

Atenciosamente
SIC SP

Sermos quem somos: CNJ e o direito à identidade

Da lista de enunciados aprovados na I Jornada de Direito da Saúde, promovida pelo CNJ.

ENUNCIADO Nº 42

Quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no registro civil.

ENUNCIADO Nº 43

É possível a retificação do sexo jurídico sem a realização da cirurgia de transgenitalização.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Trans-

Trans-gênera.
Trans-gênica.
Trans-mudada.
Trans-mutante.
Trans-portante.
Trans-cendente.

sábado, 10 de maio de 2014

Interpretando Conchita

Os mais ligados na internet já devem ter lido a notícia da vitória de Conchita Wurst no concurso da Eurovision esta noite, dividindo opiniões. Pra quem não viu ainda, esta é Conchita, que competiu pela Áustria.



Eu subo até o céu
Vocês me derrubaram mas eu vou voar
E surgir como uma fênix das cinzas
Buscando ao invés de vingança, retribuição
Vocês foram alertados
Assim que eu me transformar, assim que eu renascer
Vocês sabem que vou surgir como uma fênix
Mas vocês são minha chama!

Pois bem, de um lado temos os sólitos comentários preconceituosos sobre "como essa porra ganhou?", "ganhou por ser travesti", "ganhou por ter barba", entre outras bobagens. De outro temos o discurso de libertação propagado pela comunidade LGBT europeia, que aclamou a votação dos 37 países que participaram do concurso este ano.

O que eu penso? Penso que uma figura tão diferente como Conchita, personagem crossdresser criada por Tom Neuwirth (antes de virem com a história de "travesti de barba", sugiro que leiam este artigo), é claro que gera nas pessoas uma curiosidade além do normal. Afinal, nem mesmo na moderna e tolerante Europa (digo moderna e tolerante em comparação com o pensamento medieval brasileiro) vemos com frequência personagens deste tipo.

Tudo nela gera curiosidade. A começar pelo nome. Como assim alguém chamado Conchita? E ainda por cima Wurst (que em alemão quer dizer salsicha)? E essa barba? Isso rompe com absolutamente tudo que pensamos de uma trans, crossdresser, ou outras denominações do tipo.

Gosto de pessoas que rompem com estereótipos. Ainda que de uma forma chocante como Conchita.

Tenho que admitir que realmente não torcia pela concorrente austríaca nesta Eurovision, simplesmente porque achei a música muito chata. Aliás, nem achava que ela se classificaria para a final de hoje. Mas como historicamente, bem, a Eurovision não é um concurso que elege necessariamente a melhor música, talvez haja uma mensagem que a Europa nos queira passar.

A de que ser diferente além de ser chocante pode ser também cativante.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Convite

Estarei esta sexta, 09/05, a partir das 19h, num bate-papo junto com os autores do "Orgias".
Será no Ponto de Leitura da Galeria Olido, Av. São João, 473 (pertinho da Galeria do Rock).

Espero vocês.

Mais informações sobre o livro, e como comprá-lo: http://orgiasliterariasdatribo.com/

Abaixo o press release.

Escritores LGBT conversam sobre coletânea em São Paulo.

Nesta sexta-feira, dia 09/05, haverá um bate-papo com os 10 autores do livro Orgias Literárias da Tribo no Ponto de Leitura em São Paulo (Galeria Olido – Av. São João, 473) das 19h às 21h. O livro, que conta com poesias, crônicas e contos sobre o dia a dia, desejos e sentimentos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) é uma coletânea organizada por Fabrício Viana que, durante 30 dias, recebeu inscrições de pessoas interessadas em participar deste projeto literário.

“Apesar do polêmico nome, a obra não é erótica. Alguns textos nos fazem chorar, outros refletir, rir ou mesmo conhecer universos que muitos não fazem ideia, como a luta pela autenticidade de pessoas trans. Essa diversidade de textos, visões e autores, transformam a obra em uma verdadeira orgia, uma orgia literária. Pois o prazer em participar, ler e desbravar seu conteúdo é muito grande.”, explica Viana.

Um dos autores selecionados, Heller de Paula, afirma “Ver o livro impresso com meu nome e meu texto, principalmente sabendo do seu grande alcance a partir dali, me deixou imensamente orgulhoso. Sem falar que estou em um projeto com o Fabrício Viana, o primeiro escritor do universo LGBT que li na minha vida. Eu realmente não imaginava.”.

Karina Dias, que também faz parte da seleção e já tem 3 livros publicados, diz “Orgias Literárias da Tribo é uma coletânea fantástica que abarca histórias de lésbicas, gays, bissexuais e trans em uma verdadeira miscelânea contra o preconceito.”.

Outro autor, Caio Gomez, após o lançamento do livro diz “Não tenho palavras para descrever como me sinto diante de tanto carinho que venho recebendo. Pessoas de todo tipo falando que se comoveram com o que escrevi. Sinceramente eu não esperava por isso. Estou extremamente lisonjeado!”.

Depoimentos dos outros autores serão publicados em breve no website do projeto.

O bate-papo na Galeria Olido tem duração de duas horas e será uma ótima oportunidade para que leitores, escritores e interessados na literatura possam se conhecer, falar de seus textos, sobre as perspectivas e anseios dessa arte e cultura voltadas para a diversidade sexual.

A obra conta com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria de Estado da Cultura e da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo – Programa de Ação Cultural – 2013. Os autores que fazem parte desta coletânea são Caio Gomez, Evertton Henrique, Heller de Paula, Karina Dias, Laris Neal, Marina Rodrigues, Meggie M., Oliver Lebruter, Paula Guedes e Raphael Pagotto. Viana também convidou seu amigo blogueiro Ben Oliveira.

Participem! Evento gratuito.

Serviço:
Conversa literária LGBT em São Paulo
Dia 09/05, sexta-feira, das 19h as 21h
Livro Orgias Literárias da Tribo – Nossos dia a dia, desejos e sentimentos
Local: Ponto de Leitura – Galeria Olido – Avenida São João, 473. São Paulo / SP

Para os interessados, os livros O Armário, Ursos Perversos, Orgias Literárias da Tribo ou As Rosas e a Revolução, poderão ser adquiridos diretamente com seus autores antes ou após o evento

domingo, 4 de maio de 2014

Linha de raciocínio

Eu fundo a cuca dos homens. Se eles se encantam com minhas qualidades por serem heteros, será que se tiverem um contato íntimo comigo, podem ser considerados gays? Eu era uma menina linda que os enganou? Se eu conto, não querem nada; se não conto, ficam com raiva por não ter contado.

A outra pergunta que fica é: o que é mulher? É toda uma construção psicossociovisual ou é uma genitália encapsulada num ser humano? Não sei responder. Aos que querem buracos, fiquem com seus buracos. Eu fico com os cérebros.

sábado, 3 de maio de 2014

Educação para todos, todas e tods!

Íntegra do pedido enviado ao SIC do Governo de São Paulo, direcionado ao Centro Paula Souza. A motivação vem do anúncio de que o Conselho Estadual de Educação acaba de regulamentar o direito ao uso do nome social nas escolas de todo o Estado.

Prezado(a) Sr(a) Marina Eguez Rodrigues

CONFIRMAMOS O RECEBIMENTO DE SUA SOLICITAÇÃO de acesso a documentos, dados e informações.

Anote o número do seu protocolo: 85296145936 Data: 02/05/2014 Órgão/Entidade: Centro Estadual de Educação Tecnológica "Paula Souza" SIC: Centro Estadual de Educação Tecnológica "Paula Souza" - CEETEPS
Forma do recebimento da resposta: Consulta pelo sítio
Solicitação: Srs.,

Gostaria de ter informações sobre os procedimentos que serão tomados pelo Centro Paula Souza para atender à nova decisão tomada pelo CEE com vistas a garantir o uso do nome social por pessoas transgêneras na rede escolar paulista.

Tal questionamento se pauta pelo fato de que eu, como pessoa transgênera, já passei por situação embaraçosa quando estudante de Escola Técnica Estadual. Na ocasião solicitei o tratamento pelo nome social nas documentações internas da ETEC com base no Decreto 55.588, e tive que passar pelo constrangimento de ver meu nome social na lista junto ao nome civil, inclusive tendo sido colocada na lista de chamada pela ordem do nome civil. No que reclamei com a secretaria e obtive a resposta de que "o sistema do Centro Paula Souza só permite organizar a lista de chamada pela ordem do nome civil".

Em caso das providências tecnológicas estarem em andamento, peço que seja dado um prazo para que o sistema se adeque à resolução do CEE.

Resp.,

A sua solicitação será atendida no PRAZO não superior a 20 (vinte) dias, a contar da data do protocolo da solicitação, de acordo com o § 1o do artigo 15 do Decreto no 58.052, de 16/05/2012. O prazo referido acima poderá ser prorrogado por mais 10 (dez) dias, mediante justificativa expressa, da qual será cientificado o interessado, conforme o § 2o do mesmo artigo.

Dentro deste prazo o interessado será informado, também, sobre a data, local e modo para se realizar a consulta, efetuar a reprodução ou obter a certidão, ou sobre as razões de fato ou de direito da recusa, total ou parcial, do acesso pretendido.

Atenciosamente,

SIC.SP
Governo do Estado de São Paulo



PS.: Antes de tudo, quero informar que não tenho absolutamente NADA contra quem quer que seja da equipe da ETEC. No pouco tempo que convivi com a comunidade JRM, tive momentos muito proveitosos, de descontração, e sempre fui respeitada por todos, alunos, professores e staff, e sinto muita saudade do tempo que aí passei, e estou fazendo um esforço para estar novamente na JRM e desta vez terminar o curso que comecei, e que tive de largar. A demanda feita ao SIC se embasa unicamente em procurar garantir que o Estado faça valer uma decisão administrativa e não use o CIStema como desculpa para colocar NENHUMA pessoa em situações desconfortáveis no ambiente escolar, nem na JRM, nem em nenhuma outra unidade do Paula Souza. :* 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O apelo de uma trabalhadora trans no Dia do Trabalho

1º de maio. Dia Internacional do Trabalho.

Esta data foi escolhida por ter sido o dia em que se iniciou um levante de trabalhadores nos Estados Unidos, que começou na cidade de Chicago em 1886. Eles pleiteavam a redução da jornada da trabalho, que em alguns ofícios chegava a 16 horas diárias, para 8 horas diárias. O primeiro país a reconhecer a data como um marco da luta dos trabalhadores por melhores condições foi a França, em 1919.

Pois bem, 128 anos se passaram desde o levante em Chicago. E ainda há uma série de lutas a serem empreendidas pelos trabalhadores.

O Brasil hoje é comandado por uma presidente que pouco caso faz à luta dos trabalhadores, que ironicamente compõem o nome de seu partido, e nossa "representação popular" é de deputados e senadores que sempre legislam em causa dos empregadores que fazem de tudo para tirar os direitos conquistados desde que foi editada a Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943. Como parte dos quadros do funcionalismo público, presenciei em 2012 uma greve geral de dimensões inimagináveis nesses últimos anos de governo de centro-esquerda.

E muito pouco ou mesmo nada foi feito pela inclusão no mercado de trabalho de pessoas como eu, como alguns dos meus leitores, que convivem com outra luta: a luta pelo reconhecimento de sua identidade.

Não tenho como fechar os olhos para alguns avanços que aconteceram, a maioria deles no setor público:
- Alguns Estados aprovaram o reconhecimento ao nome social das pessoas trans nas repartições e nos serviços públicos, em especial na saúde. Em São Paulo, pode-se citar o Decreto Estadual 55.588 e o Decreto Municipal 51.180, que dispõem sobre o uso do nome social em serviços públicos no Estado e na Capital, além da Lei Estadual 10.948, que pune a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero.
- Portarias federais reconheceram o direito ao nome social: a Portaria 233/2010, do Ministério do Planejamento, que trata do uso do nome social dos funcionários do Executivo Federal nas repartições, a Portaria 1820/2009, do Ministério da Saúde, que regulamenta o uso do nome social pelos usuários do SUS, e a Portaria 1612/2011, do Ministério da Educação, que regulamenta o nome social em atos daquele Ministério, e serviu de base para o reconhecimento ao nome social pelas universidades federais.
- Diversos projetos de lei tentam resguardar à população trans o direito a expressar sua identidade de gênero com dignidade. Podemos citar o 728/2011, da Assembleia Legislativa de São Paulo, de autoria da deputada Leci Brandão (PCdoB), sobre o uso do nome social nos registros das escolas estaduais, e aquele que atualmente é o projeto mais moderno, o 5002/2013, a Lei de Identidade de Gênero, ou Lei João Nery, de autoria de Jean Wyllys (PSOL/RJ) e Érika Kokay (PT/DF).

Mas ainda temos um terreno extremamente hostil à efetiva inclusão das pessoas trans no mercado formal de trabalho. Elas são muitas vezes jogadas para o subemprego, a prostituição ou a marginalidade, vítimas do preconceito, da estigmatização, da invisibilidade.

Aquelas que por uma ousadia se destacam, como a professora cearense Luma Andrade, a delegada goiana Laura de Castro Teixeira, e como não citar atrizes e modelos de renome nacional e internacional como Maria Clara Spinelli, Maitê Schneider, Lea T e Carol Marra, são alçadas a uma categoria de "curiosidade" pela mídia. Assim como tantas outras anônimas, que diariamente convivem com invasões à sua intimidade, pelo mero desconhecimento do que é ser trans e conviver todo dia com a opressão institucionalizada.

O meu apelo, meu, de Marina Rodrigues, trans, funcionária pública, e acima de tudo, cidadã brasileira e contribuinte de impostos, é muito básico.

Apelo para que nós, pessoas trans, possamos trabalhar, dignamente, honestamente, tratadas de igual para igual, sem privilégios ou deméritos, sendo consideradas apenas como o que somos: pessoas, humanas, cidadãs, hábeis, aptas, trabalhadoras.

FELIZ 1º DE MAIO!


Foto: Ato público de 1º de Maio. São Bernardo do Campo, 1 maio 1980. Ricardo Alves. Acervo Arquivo Edgard Leuenroth

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sobre orgias e palavras

No início do ano, tive a oportunidade de conhecer um projeto muito legal organizado por um amigo de um amigo, que gostou muito do meu blog e sugeriu que eu enviasse para avaliação alguns dos meus textos, para fazer parte de uma coletânea literária. Com um detalhe: na coletânea só entrariam autores do meio LGBT.

O resultado é minha participação, junto com outros nove autores, de todas as letras da sopa, no que é uma verdadeira orgia de letras, textos, estilos, visões de mundo. Tudo isso com a organização do Fabrício Viana, já conhecido no meio gay, e que com o apoio de um edital cultural do Governo de São Paulo, conseguiu unir num único livro universos tão diferentes e aparentemente imiscíveis.

O meu capítulo é um apanhado de várias postagens minhas desde janeiro de 2013 (como o tempo passa, hein?), neste blog, nesta minha terapia pública com o mundo e com minha nova vivência enquanto pessoa trans.

Embarque nessa experiência de entendimento das várias vertentes do mundo sexo-gênero-diverso, como indicado em uma passagem do prefácio:

O ideal mesmo é provar de todos. Estou pedindo muito? Claro que não. Afinal, isso é uma orgia! Esse é o momento de experimentação coletiva. Didaticamente? Comece com um, depois pule para o próximo, e, em alguns casos, interaja com dois ou três simultaneamente. Esqueça a ordem que sua mente criou e faça um esforço para conhecer aqueles mais distantes, do segmento LGBT com que você tem pouco contato (Gays só leem textos de gays e lésbicas só leem textos de lésbicas? Aqui, não! Nesta orgia temos pelo menos um representante de cada segmento LGBT, aproveite!). Mas não tenha pressa. Vá com calma. Lembre-se de que o que mais importa em uma orgia literária é o prazer.

Abaixo o press release. Espero vocês lá na tarde de autógrafos, dia 1º de maio (quinta-feira e feriado), das 15h às 16h30, na Feira Cultural LGBT, na Praça da República, em São Paulo!

E também está previsto um bate-papo com os autores (espero estar lá também) no dia 9 (sexta-feira), às 19h, na Galeria Olido (pra quem não conhece, é ali na Av. São João, do lado da Galeria do Rock).

Atualização de 29/04: os nomes dos autores estão no press release.




Livro reúne 10 autores em uma verdadeira orgia

Depois de publicar um livro independente sobre a homossexualidade chamado O Armário (2006) e um de contos eróticos gays chamado Ursos Perversos (2014), Fabrício Viana, que é bacharel em psicologia e já participou em mais de 30 programas de TV ao longo destes anos, lança uma coletânea LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) que é uma verdadeira orgia literária

Com o apoio do Governo de São Paulo, da Secretaria de Estado da Cultura e da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo – Programa de Ação Cultural – 2013, Viana recebeu, durante 30 dias, por meio do website www.orgiasliterariasdatribo.com, inscrições e textos de novos autores interessados em participar deste projeto. As regras? Morar em São Paulo, ser maior de 18 anos e pertencer assumidamente a um dos segmentos LGBT.

“Eu queria um livro com textos diversos sobre o nosso dia a dia, desejos e sentimentos: contos, poesias e crônicas, tudo junto! E também que entre os autores tivesse pelo menos uma pessoa representando cada segmento LGBT. E consegui! Recebi mais de 30 inscrições e tive que ler mais de 500 páginas de textos para escolher apenas 10 autores. O resultado final? Uma orgia literária tão interessante e diversificada que, em determinado momento, o leitor terá que virar o livro de cabeça para baixo, ou de lado, só para continuar lendo seu conteúdo”, comenta Viana

A obra tem 144 páginas, formato 14x21cm, já é comercializada no website do autor (www.fabricioviana.com/livros) e tem tarde de autógrafos programada para o dia 01 de Maio, feriado, na Praça da República em São Paulo das 15h as 16h30. “Teremos uma tenda de literatura LGBT durante a Feira Cultural LGBT dia 01 de Maio. Uma das feiras culturais mais conhecidas da comunidade gay brasileira, pois acontece três dias antes da maior parada gay do mundo em São Paulo. Daí resolvi fazer a tarde de autógrafos lá, unir amigos, leitores dos meus outros livros e os 10 autores junto de seus convidados. Haverá segurança, música e várias tendas nesta feira, inclusive com outros produtos. É um evento interessante pois famílias levam crianças para assistir aos shows de drag queens. Vale conhecer!”, diz o organizador.

Entre os autores escolhidos desta coletânea estão Caio Gomez, Evertton Henrique, Heller de Paula, Karina Dias, Laris Neal, Marina Rodrigues, Meggie M., Oliver Lebruter, Paula Guedes e Raphael Pagotto. Viana também convidou seu amigo blogueiro Ben Oliveira, que fala um pouco sobre a Literatura LGBT e como é tornar-se escritor.

Sobre o organizador

Fabrício Viana é escritor, bacharel em psicologia e já criou diversos projetos para a comunidade LGBT. Em 2002 idealizou a Campanha Digital contra o Preconceito, em 2003 o portal Armário X e em 2004 a TVTudo.com (Premiado pela APOGLBT – ONG responsável pela Parada do Orgulho LGBT de São Paulo). Em seguida lançou o livro O Armário em 2006, sobre a homossexualidade, em 2007 produziu o documentário premiado chamado “Nosso Orgulho”, sobre os 10 anos da parada gay e em 2014 o livro Ursos Perversos, uma coletânea de contos pesados. Atualmente, Viana escreve Theus (antigo livro Prometheus) e produz, graças a um projeto coletivo que ganhou por meio do Catarse.me, um documentário chamado Relações Abertas (sobre relacionamento aberto). Mais detalhes, incluindo formas para contatá-lo por meio das redes sociais, em seu website: http://www.fabricioviana.com

Serviço:

Tarde de autógrafos do livro
Orgias Literárias da Tribo – Nosso dia a dia, desejos e sentimentos

Data: 01 de Maio de 2014 – Feriado
Horário: das 15h as 16h30
Local: Praça da República durante a Feira Cultural GLBT
(procurar a tenda de literatura GLS – Gays, lésbicas e simpatizantes)
Para comprar on-line: http://fabricioviana.com/livros
Para confirmar presença no Facebook: https://www.facebook.com/events/475294819237559

domingo, 20 de abril de 2014

Passeios

Imagino que um dia minha alma poderá ser levada num passeio inebriante pela sensação mais complexa de se conseguir. Sua complexidade se deve ao fato de necessitar incondicionalmente de outra alma que esteja disposta a se inebriar no mesmo passeio. Se há duas almas, mas só uma que realmente se envolva nessa ebriedade, é outra sensação, ilusão una, criação de uma mente fértil.

Recordo-me de um filme que assisti há algum tempo. Franco-iraniano. Um músico que só se tornaria digno de ser assim chamado se captasse "o sopro". E ele o captou, depois de se distanciar de sua única amada, pois o pai dela não aprovava a relação; afinal, ele era um músico, e só música não sustentava uma família. A tristeza se expressava em sua música, e essa ligação era tão forte, que quando seu violino foi quebrado pela mulher com quem se casou sem amor, ele decidiu morrer, pois não achava mais nenhum sentido na vida.

Nossa vida se faz assim também, de pequenas mortes. Mortes simbólicas. São como violinos que se quebram, alguns até antes mesmo de serem tocados. Pequenas mortes simbólicas que são libertações. Para que logo se tenha a habilidade de se inebriar novamente, em novas aventuras, em ilusões gêmeas que se completem e formem sopros que inspirem.

Música da noite: Fiorella Mannoia - L'altra metà

Eu não sei mais quem sou, e o meu nome não vai me ajudar
E não tenho mais perdão, nem medo de sair daqui
Seguirei teu perfume e teu olhar vai me iluminar
Amor meu, amor não mais meu
Pobre amor meu, pobre amor não mais meu



P.S.: Caso haja interesse, o nome do filme que citei é "Poulet aux prunes", dirigido por Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud. Confesso que dormi ao final, pelo filme ser um tanto lento, mas creio que consegui captar a história principal do filme.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Desbocada

Sem vergonha.
Serena.
Sem papas na língua.
Operada.
Três pontos no lábio inferior.
Falando pouco.
Falando menos.
É, menos.
Mas pensando mais.
Pensando antes de falar.
Falando pensadamente.
Falando intensamente.
Desbocada.
Abrindo menos a boca.
Boca maldita.
Boca sensível.
Boca ritmada.
Minha boca.

domingo, 6 de abril de 2014

Ilusões irreais

Queria me manter embebida na ilusão que criei.
Dormir com pensamentos bons.
Sem pensar na realidade.
Apenas dormir.
E pensar nas boas ilusões.
Que não precisam nem ser reais.
Apenas precisam continuar vivas na minha mente.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Transexuais e o mercado de trabalho: entrevista para TV USP

Há algum tempo atrás, recebi um convite de estudantes da ECA/USP para participar de uma entrevista sobre o mercado de trabalho para transexuais. Elas queriam entender como o mercado nos trata, exemplos e histórias. Eis o resultado. Muito bacana a abordagem que elas fizeram.


sábado, 29 de março de 2014

#NãoMereçoSerEstuprada

Pesquisa realizada pelo IPEA revelou dados revoltantes sobre o apoio da população brasileira à "cultura do estupro", típica de uma sociedade que insiste em tirar os nossos direitos personalíssimos ao próprio corpo.

58,5% dos entrevistados concordam ao menos parcialmente que "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".

Mais revoltante: 65,1% concordam ao menos parcialmente que "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".

Em outras palavras, a população brasileira legitima o discurso falocêntrico de que a mulher tem culpa por ser estuprada. O homem simplesmente não tem controle sobre os próprios instintos. Está instaurada a cultura do estupro e da violência de gênero.

Não vamos deixar que esse absurdo se perpetue. Pelo bem de todas as mulheres. Todas!


Atualização: o IPEA soltou uma "nota de correção" e disse que os 65% não se referiam à mulher que merece ser estuprada. O número correto seria 26%. Os 65% se referem aos que concordam ao menos parcialmente que "Mulher que apanha e continua com o marido gosta de apanhar". Ou seja, trocaram seis por meia dúzia.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A alegria...

... de poder mostrar o seu valor, e às pessoas que quiseram seu mal mostrar que você é realmente uma pessoa digna mesmo que tentem lhe desqualificar, é o riso que se dá por último.

quarta-feira, 26 de março de 2014

A bondade dos homens

Não acredito na bondade dos homens. Acredito que haja momentos de inclinação para se fazer coisas que nos pareçam ser feitas para o bem, e coisas que nos pareçam ser feitas para o mal. Mas a maldade integral e a bondade integral são entidades fictícias. Todo mundo tem um lado bom e um lado mau, e em determinados momentos, um ou outro lado se fortalece. Encontrar um balanço entre essas duas forças antípodas é uma habilidade que nos engrandece e melhora nosso autoconhecimento.

terça-feira, 4 de março de 2014

O mute

Antes de qualquer comentário, leia.

Algo que sempre percebo no mundinho é que geralmente falar da opressão é interpretado como enfrentar a opressão. Quem não fala está "vivendo num mundo de faz-de-conta", está "mentindo para si sobre quem se realmente é", está "se negando como as outras pessoas lhe negam", está "jogando o jogo do opressor" etc. Ou seja: "ligar o mute" é, desculpem a piada, "trair o movimento".

A única coisa que tenho a declarar. EU LIGO SIM O MUTE!!!!

Por quê?

Simples: em outros relatos, disse que minha vida, por tudo o que construí e conquistei, não se resume somente a discutir a existência do ser e a queixar-me de que o mundo conspira contra mim.

Poderia estar fadada a um destino sem esperança. Eu o reverti. Pode não ter sido da forma considerada pelo mundinho como a "louvável", mas o reverti, à minha maneira.

E isso não me torna melhor ou pior que ninguém. Muito pelo contrário. Me humaniza, me normaliza, me empodera. Num mundo em que há tantas reclamações de desumanização, descaracterização, despoderamento, desrespeito, desqualquercoisa, conseguir achar na sua luta interna uma possibilidade de seguir em frente numa aparente "normalidade" pode ser até mal visto.

Eu lhes digo: não há demérito em ser "normal". O diferente pode ser "normal". Vejam todas as revoluções de costumes que tivemos no século passado. E as que temos agora. Quem diria há 70 anos atrás que uma mulher poderia usar calças perfeitamente sem ser chamada de "sapatão", de "subversiva"? E quem diria há 20 anos que um homem ousaria ir de saia ao trabalho ou na faculdade (desde que não fosse numa festa escocesa) correndo o risco de ser chamado de "viado" (ou até de sofrer agressão) por uma questão simplesmente prática?

Agora, há quem diga que não, que você que tem que denunciar, que não se deixar oprimir é gritar e espernear, porque é sua obrigação como pessoa T. Obrigação dada por quem, criatura?

Não falar a cada 5 frases que sou oprimida não é o mesmo que submeter-se à opressão. Não passar o dia inteiro falando de transfobia e de que sofro transfobia não é o mesmo que aceitá-la ou negar minha própria existência como ser que dela sofre. Não usar termos pomposos a cada 5 palavras que falo não quer dizer que eu não os conheça ou que eu os ignore.

Ligo o mute por economia de neurônios que já são por demais ocupados. Não uso palavras que parecem saídas de um dicionário de uma língua distante porque não os vejo cabíveis na linguagem que uso para me comunicar. Não grito porque gritei demais antigamente e minha voz me irrita. Não falo de sofrimento porque eu posso não ter sofrido como tantas sofrem, e só eu consigo entender o meu sofrimento.

Ligo o mute não para fechar meus olhos.
E sim porque eles estão bem abertos.
E olhos veem melhor que a boca.

Vídeo da noite: Cristina Donà - Le solite cose

Sufoca a madrugada uma imagem sobre o vidro
Que ainda não sei onde colocar
Bate forte contra a janela e me obriga a pensar!
No meu vestido apenas gelo e sob os pés nenhuma terra
Não posso ficar, mas quero ficar parada olhando, olhando...
Há confusão pelas coisas de sempre...


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Nota

Às (poucas) meninas que responderam ao meu chamamento, eu não esqueci de vocês.
Neste momento estou um pouco assoberbada com questões de trabalho e algumas questões pessoais que preciso resolver em no-time.

Estou devendo um contato, e estou pensando em todas as histórias que vocês me contaram até o momento. E retornarei com ideias, e caso tenham novas, não hesitem em me chamar.

Beijos!

Vídeo da noite: Marvin Gaye & Tammi Terrell - Ain't no mountain high

Apenas diga meu nome, estarei aí num pulo
Não precisa se preocupar, porque, baby
Não há montanha tão alta
Não há vale tão profundo
Não há rio tão largo
Que me impeça de alcançar, baby

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Desconstruindo pensamentos

Em minhas sessões de acolhimento no CRT, tive uma oportunidade única na vida: a de conhecer pessoas que destoam completamente dos estereótipos travestis, transexuais, transgêneros, transqualquerporcaria. E isso foi maravilhoso.

Nossas discussões são extremamente focadas, e ali há realmente o interesse de se entender se ali é o local ideal para os nossos anseios. Local também para acabar com visões romantizadas do que é transição. É a idealização sendo completamente desfigurada por uma realidade que pode parecer cruel, porém é um caminho tortuoso que tods nós devemos seguir.

Em breve, conseguirei o famoso laudo que vai me possibilitar acompanhamento hormonal e a abertura de pedido de retificação civil. As coisas correm bem. O que percebi de todas as sessões, que a meu ver seriam meramente burocráticas e extremamente tediosas, é que tod@s nós deveríamos ter um mínimo de orientação especializada para construir uma fundação forte para nossos projetos.

Sozinhas nada conseguimos!

Como faz tempo que não posto vídeos a ver com meu estado de espírito, vou postar um agora.

Vídeo do sábado: Cher - You haven't seen the last of me

Eu fui levada a me ajoelhar
E fui jogada até meu limite
Mas posso suportar, eu voltarei a ficar em pé
Isto está longe do fim
Estou longe do fim
Você ainda não me viu acabar
Você ainda não me viu acabar




P.S.: Sim, eu tirei essa música do "Burlesque", aquele filme com a Cher e a Christina Aguilera. Adorei o filme, e realmente fico triste em ver como a Christina, cantando fodamente do jeito que canta, seja tão desvalorizada. IMHO

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Quinta-feira

Mais um dia de choque de realidade. Um choque bom.

Vídeo da noite: Mine - Du scheinst

Vi esse clipe neste blog e achei a mensagem bem legal. Ame-se acima de tudo, para depois outros te amarem.

Tudo floresce colorido, o ar tem um gosto doce
Eu rio na cara da vida
De que adianta o amor de faz-de-conta
Eu canto você
Você brilha, você brilha bem para mim
Você é saudável para mim


PS.: Ich sehe auf die Pageviews vielen Besuchen aus Deutschland. Wenn ihr möchtet, um Ideen über dieses Blogs zu teilen, fühlt, mich zu kontaktieren. Solange meine Deutschkenntnisse sind immer noch sehr einfach, wenn ich etwas falsch eingegeben haben, Entschuldigung. ;) 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Cartão: Visibilidade Trans

Em lembrança ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é 29 de janeiro, fiz este singelo cartão.
Espero que cada um.a de vocês se encontre em alguma das palavras escritas.


As medidas são adequadas à exibição na capa do perfil do Facebook.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Para 2014: olhar para dentro de si

Querid@s, como foi a passagem para 2014 de vocês? Espero que tenha sido tudo muito bom! Meus desejos para este ano é que vocês tenham muito amor, felicidade, conquistas, saúde, dinheiro (sempre bem-vindo) e respeito! Deixo a vocês este maravilhoso poema de Drummond que reflete o chamado para o novo ano: fazer a sua "viagem interior", entender a si mesmo para entender ao outro e tornar o mundo um lugar melhor.

O homem, as viagens (Carlos Drummond de Andrade)

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.

Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?

Claro – diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto – é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.